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CRÍTICA

Estreia de Gloria Pires na direção, 'Sexa' mastiga a pauta do etarismo

Primeiro longa de Gloria Pires como diretora tem ótimas intenções, mas apela a recursos narrativos óbvios e datados

André Guerra

Publicado: 12/12/2025 às 18:43

 /Divulgação

(Divulgação)

Não leva cinco minutos para que todo o enunciado de Sexa, em cartaz no Recife, seja exposto e mastigado para a plateia. Após completar 60 anos, Bárbara (vivida por Gloria Pires) não suporta nem mesmo as velas do bolo com sua idade e está completamente desiludida com a possibilidade de se apaixonar novamente — pelo menos até se encontrar casualmente com Davi (Thiago Martins), um rapaz mais jovem com quem inicia um relacionamento. A diferença geracional, assim, passa a cobrar o preço de diferentes formas e ameaça barrar a felicidade dos dois.

Além de protagonizar a história, Gloria faz aqui a sua estreia na direção, a partir do roteiro de Guilherme Gonzalez. A atriz se coloca à inteira disposição da personagem e, visivelmente, traz toda a sua bagagem de décadas na TV, principalmente para compor a personalidade assumidamente televisiva do filme. Ao menos de um ponto de vista padronizado da execução formal, Sexa é simpático e, quando menos, corriqueiro.

O obstáculo mais nítido do filme é realmente a pedagogia do texto. Já na sequência de abertura, com a ótima presença da vizinha Cristina (Isabel Fillardis), ele faz questão de verbalizar toda a indignação da personagem, como uma sucessão de postagens sobre etarismo, machismo e sexismo. A legitimidade das pautas confere a esses diálogos uma aparência de necessidade, mas colocar o discurso na boca dos protagonistas de forma tão didática, como acontece aqui, costuma provocar mais irritação pela obviedade do que esclarecimento.

Em Sexa, o assunto não surge a partir da trama: ele é a trama. Todas as interações entre os personagens, incluindo o conflito entre Bárbara e seu filho mimado, Rodrigo (Danilo Mesquita), existem apenas para reforçar o ponto — mais do que válido, claro — da diretora e do roteirista.

Essa verborragia resvala em certa ingenuidade no olhar sobre o tema; um tratamento que quase faz parecer que a pauta é, de algum modo, novidade. Quando, na prática, é um projeto que nasce antiquado já na escalação, por exemplo, de Thiago Martins para o papel de Davi. O ator está mais próximo dos 40 do que dos 30, e sua presença não inspira nem de longe a juventude que a caracterização de Sexa quer vender à força (a subtrama do amigo da faculdade fazendo piada com a ideia de que ele está ficando com a “professora” é suavemente constrangedora).

As falas são tão ultrapassadas que, para fazer piada com o repertório literário rudimentar do personagem de Thiago Martins, recorre-se ao clichê de citar Harry Potter e O Senhor dos Anéis como as obras que ele consegue lembrar de cabeça em dado momento. E, ainda que o roteiro tenha pontualmente boas sacadas, como confronto entre Bárbara e Rodrigo (“sou velha demais para namorar, mas não o suficiente para te sustentar?”), o conjunto de Sexa está mais próximo de uma colagem de frases educativas prontas do que de uma comédia romântica autônoma e confiante de sua própria história.

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