Mostra inédita da Oficina Francisco Brennand investiga disfarces de luz unindo poesia e artes visuais
'Noites de Sol' entra em cartaz neste sábado (8)
Publicado: 05/11/2025 às 16:12
(Foto: Marina Domar)
Em cartaz a partir deste sábado (8), exposição com curadoria de Rita Vênus põe em diálogo o universo noturno e incandescente da poesia de Deborah Brennand com a linguagem visual da artista Amorí. No dia de abertura, museu-ateliê terá bilheteria gratuita para todos os públicos.
Os versos de Deborah Brennand (1927–2015) são alguns dos muitos que traduzem as relações entre claridade e sombra, marcas de sua poética. É a partir desse universo que a Oficina Francisco Brennand inaugura, neste sábado (8), a exposição inédita 'Noites de Sol', um encontro entre a poesia de Deborah e a pintura contemporânea da artista Amorí a partir do poema homônimo da autora, publicado pela primeira vez no livro Noites de Sol ou As Viagens do Sonho (1966), no qual imagens intensas de luz e temas como tempo e sonho se fazem presentes.
A mostra também inclui o desenho 'O Sonho' (1950), de Francisco Brennand, que se conecta ao poema que inspira o projeto. A exposição tem curadoria de Rita Vênus, também responsável por "Núcleo Saturno", e ficará aberta ao público durante seis meses na entressala do Cineteatro do museu-ateliê, localizado no bairro da Várzea, com entrada gratuita no dia da estreia.
Inspirada pelo livro publicado em 1966, Amorí desenvolveu a obra inédita 'Tudo Aceso no Profundo Azul da Noite', conectada aos principais aspectos da poesia de Deborah. Apesar de pertencentes a gerações e linguagens distintas, as artistas possuem pontos em comum na criação de suas obras, a exemplo das paisagens atravessadas pela luz e dos seres disfarçados de estrelas.
Ambas partem, ainda, de um imaginário rural predominante nas localidades onde nasceram: são de origem pernambucana, especificamente das Zonas da Mata Norte e Sul. A mostra surge, portanto, sob ideia e propósito de reapresentar a obra de Deborah Brennand, no ano em que se completa a primeira década de seu falecimento, ampliando as possibilidades de alcance de sua criação no contemporâneo por meio do diálogo com a linguagem visual.
O espaço intimista, projetado pelo arquiteto Alberto Rheingantz, responsável pelo último Panorama da Arte Brasileira no MAM, foi pensado para fazer convite à contemplação, propondo que os visitantes apreciem com calma as obras, dispondo de um mobiliário que cria uma ambientação acolhedora, despertando o desejo de permanência por mais tempo na exposição.
Para a curadora, a obra de Amorí cria conexões diretas e tangenciais com o texto poético de Deborah. Assim, dentro do imaginário da autora, é possível perceber diversos aspectos refletidos na obra visual. “As paisagens de nuvens são imagens presentes na obra das duas artistas, muitas vezes ligadas à passagem do tempo. Eu falo que com Deborah viajamos a um primeiro jardim, pois ela faz muitas referências ao Éden e à presença das folhas e frutos vermelhos', conta.
"Com Amorí, é como se fôssemos levadas a um último jardim, de uma terra mais arrasada, porém cheia de matéria luminosa e brincante. Em troca com Aura do Nascimento, ela me falou algo bonito sobre a obra de amorí: é como se a artista criasse um site-specific dentro da mente dela e revelasse isso na pintura", observa Rita Vênus.
Ela acrescenta que, na Oficina Francisco Brennand, a literatura, especialmente a poesia, encontra um terreno fértil para se desenvolver e se espalhar pelos espaços da cidadela, pelos seus muros e pelo conjunto escultural. “A presença de trechos literários em todo o museu-ateliê depõe a íntima relação do artista com a palavra. ‘Noites de Sol’ é um projeto voltado a estabelecer conexões entre a Oficina e a arte contemporânea, enaltecendo o talento das artistas e reafirmando a importância da Oficina como um dos grandes polos culturais do Brasil” finaliza.