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CINEMA

‘Suçuarana’ desbrava paisagens mineiras na busca de pertencimento

Em cartaz no Recife, 'Suçuarana' é protagonizado por Sinara Teles e dirigido por Clarissa Campolina e Sérgio Borges

Andre Guerra

Publicado: 12/09/2025 às 14:14

 /Divulgação

(Divulgação)

A leitura do celebrado livro A Fera na Selva, foi o que inicialmente motivou Clarissa Campolina a começar a idealizar o seu mais novo longa-metragem, Suçuarana, já em cartaz no Recife. Ainda em 2012, a cineasta mineira (dos filmes Girimunho e Enquanto Estamos Aqui) foi tocada pela obra lançada em 1903 pelo influente escritor britânico Henry James e, mais de uma década depois, conseguiu reconfigurar as ideias contidas nela para desenvolver seu próprio projeto, também dirigido por Sérgio Borges.

Na ficção, Dora (vivida por Sinara Teles) é uma mulher que há muitos anos não cria raízes em lugar nenhum e vive pela estrada, em busca da terra sonhada por sua mãe. Não há nenhuma pista concreta de que esse lugar que dá título ao filme sequer existe, mas a protagonista carrega consigo uma fotografia antiga com o nome misterioso e, guiada por um cachorro que aparece no seu caminho, acaba chegando a uma vila de trabalhadores que se refugiam em uma fábrica abandonada.

A narrativa silenciosa desbrava os perigos da estrada que Dora percorre ao longo de tantos anos e, à medida que a protagonista cria contato com novos personagens, Suçuarana centraliza mais sua encenação nesse ambiente novo que encontra na segunda metade. A interpretação corporalmente forte e cheia de cansaço no olhar de Sinara Teles é peça chave para a conexão da plateia com a personagem se estreitar a cana interação dela com os novos estímulos físicos, musicais e até espirituais que cruzam seu caminho.

“Fui convidada para participar do filme na época que estava fazendo O Silêncio das Ostras, de Marcos Pimentel, e fiquei completamente apaixonada pela personagem desde o começo”, relembra Sinara Teles em entrevista ao Viver. “Além de ser uma pessoa completamente diferente de mim, Dora exige uma interpretação muito corporal e desafiadora. É uma pessoa que não se dobra àquele mundo à sua volta e àqueles lugares que reproduzem ciclos de patriarcado e violência”.

No livro, o protagonista John Marcher vive na expectativa de que algo inesperado aconteça e mude sua vida, como se uma fera o acompanhasse a todo tempo, pronta para atacar. Clarissa Campolina comenta sobre como os elementos presentes na obra que a inspirou se fizeram presentes no filme. “O que nos interessava era essa sensação de um presente sempre assombrado por algo que não se deixa nomear, e que, no entanto, marca todos os gestos”, aponta a cineasta.

“Aqui, a personagem se traduz em uma busca incessante por um lugar utópico. Dora caminha sempre, mas carrega consigo a mesma inquietação, um desejo de tocar algo perdido. O que para James é uma ferida íntima e psicológica, no nosso projeto se desdobra no corpo da personagem e na paisagem que a cerca”, completa Campolina.

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