Cida Moreira e Rodrigo Vellozo lançam álbum 'Com o Coração na Boca'
Em diálogo musical entre gerações, Cida Moreira e Rodrigo Vellozo exploram a fusão de teatro e música no álbum 'Com o Coração na Boca'
Publicado: 08/09/2025 às 07:00

(Foto: Murilo Alvesso)
Quando a arte é capaz de fazer o coração chorar, sorrir ou palpitar, ela alcança sua forma mais visceral. É nessa intensidade que habita o álbum Com o Coração na Boca, que reúne Cida Moreira e Rodrigo Vellozo em um encontro de duas gerações da música brasileira. Entre tensão e harmonia, música e teatro se entrelaçam em duetos e duelos de vozes e pianos, explorando a dualidade entre amor e dor. O projeto já está disponível nas plataformas digitais.
Embora seja gravado em estúdio como um desdobramento do show dirigido por Murilo Alves e construído como uma narrativa, no álbum é a melodia junto ao texto que arrebata e comanda a emoção. “Quando você tira a cena, a luz, o cenário e a caracterização, o que sobra é a música em sua forma mais pura”, observa o pianista, que herda e dialoga com a tradição musical brasileira não apenas neste projeto, mas também em outros, como na sua recente apresentação ao lado do seu pai, o icônico sambista Benito Di Paula, no Teatro Guararapes, pela turnê 'Do Jeito Que a Vida Quer'.
A célebre faixa de Benito foi incorporada à tracklist de Com o Coração na Boca, encontrando seu lugar ao lado de outras pérolas, como Clareza (Rodrigo Campos), Velocidade da Luz (Tundy) e a densidade lírica de Babylon (Zeca Baleiro). Juntos, os seis duetos e dois solos que compõem o disco formam um recorte preciso do espetáculo original, cujo roteiro integral é mais abrangente e alinha mais de vinte músicas. “Cada música escolhida veio porque tinha uma história para contar conosco, uma dor ou uma alegria para dividir no palco. São canções que respiram teatro”, explica Cida Moreira, com a propriedade de quem iniciou a carreira nos palcos.
Sua trajetória confirma essa autoridade. Ela é ninguém menos do que a dama do teatro musical brasileiro, que começou como atriz no elenco de A Farsa da Noiva Bombardeada, escrito por Alcides Nogueira, antes de participar da montagem original da Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Nem mesmo ao se lançar como cantora em 1980, com o show 'Summertime', Cida deixou para trás suas raízes dramáticas. Prova disso é a presença recorrente do dramaturgo alemão Bertolt Brecht em seu cancioneiro. “Não foi uma escolha levar o teatro para a música, e sim, uma consequência natural de quem eu sou”, diz a artista.
Tal convicção explica a generosidade com que abraçou o convite para dar nova vida ao espetáculo Com o Coração na Boca em formato de disco. No fundo, era a chance de cristalizar em áudio uma verdade que ambos compartilham: se o teatro torna a música viva, é a gravação que lhe garante a eternidade. “Quando vi o resultado do show, pensei: 'Preciso registrar isso. Não quero que fique só na lembrança”, relembra Rodrigo Vellozo.
É nesse diálogo entre música e teatro, tradição e continuidade, que entra o pianista. Com uma trajetória mais recente nos palcos, ele abraça a missão de dar seguimento a esse legado. “A tradição do teatro musical brasileiro é muito rica e vai além do modelo importado. A Cida é parte fundamental dessa história”, aponta. Quando os dois se encontram, o Brasil é cantado e representado em toda a sua complexidade.

