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MÚSICA

Sergio Krakowski une pandeiro e voz em novo álbum

Após 20 anos de experimentações, Sergio Krakowski insere a palavra em sua linguagem musical no álbum "Boca do Tempo"

Allan Lopes

Publicado: 15/07/2025 às 15:35

Sergio Krakowski/Foto: Divulgação

Sergio Krakowski (Foto: Divulgação)

Nesta quarta-feira (16), Sergio Krakowski lança Boca do Tempo, álbum que marca um ponto de virada em sua trajetória como percussionista, compositor e pesquisador. Com mais de duas décadas de experimentação musical, ele apresenta, pela primeira vez, a voz e a palavra como protagonistas ao lado do pandeiro e da eletrônica, entrelaçadas ao improviso que sempre norteou sua criação. O disco tem a distribuição da gravadora Rocinante.

“Foi no primeiro dia do ano, quando as duas pontas se encontram, que entendi a essência deste disco: o elo”, conta Sergio. “O chamado de fato aconteceu quando meu pai, Osvaldo, morreu. A boca do tempo. Passou, então, a ser inadiável consolidar uma resposta; passou a ser imprescindível usar também a boca, a voz, o ar.”

Com nove faixas, o disco nasceu como uma travessia pessoal entre a perda do pai e o nascimento do filho. “Inicialmente eu entendia o disco apenas como homenagem ao meu pai, mas foi quando ouvi ele completo que entendi que o disco diz respeito ao percurso que liga o meu pai ao meu filho”, diz. “E às descobertas que fiz e sigo fazendo nesse percurso.”

Sergio Krakowski - Foto: Divulgação
Sergio Krakowski (crédito: Foto: Divulgação)

Mesmo com a voz ocupando novo espaço, Sergio deixa claro que o pandeiro continua no centro de tudo. “A palavra surgiu para criar conexões verbais com o público no meio do fluxo de improvisação do pandeiro e da eletrônica. Ela aparece às vezes em um formato mais próximo da canção, outras vezes como mais um instrumento percussivo.”

Uma das inovações mais interessantes do álbum são as chamadas Engrenagens Sonoras de Ativação: células rítmicas compostas por palavras e sílabas cuidadosamente organizadas para gerar impacto tanto sonoro quanto simbólico. “Essa ideia nasceu quando eu dava aula em Nova York”, lembra. “Percebi que a forma como o percussionista brasileiro fala ritmo é muito específica e eficaz. Ao estudar isso, tive o estalo de aplicar a técnica para expressar versos que carregam imagens, criando um impacto rítmico e também verbal.”


O resultado pode ser sentido em faixas como “Dongueragan”; construída com a alternância entre sons da ponta e do fundo da língua e em “Alga”, que traz a imagem poética que dá nome ao disco. Gravado em Araras, o projeto passou por um longo caminho até sua finalização. “A construção do trabalho é tão longa que partes dele aconteceram por volta dos anos 2000. Foram 25 anos de busca que passaram pelo Rio, Paris e Nova York. E mesmo agora, cada vez que subo no palco, não sei exatamente o que vai acontecer. É um projeto que segue improvisado e vivo.”

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