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FIG 2025 tem baixa expectativa de público e de movimentação financeira

O 33ª Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) acontecerá no agreste pernambucano entre 10 e 27 de julho. Na semana de abertura, comerciantes e profissionais da área de turismo se preparam para o evento com cautela.

Camila Estephania

Publicado: 09/07/2025 às 08:00

Criado em 1990, o Festival de Inverno de Garanhuns completa 35 anos em 2025./Felipe Souto Maior - Secult-PE/Fundarpe

Criado em 1990, o Festival de Inverno de Garanhuns completa 35 anos em 2025. (Felipe Souto Maior - Secult-PE/Fundarpe)

O 33º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) começa nesta quinta (10), mas parte da população da cidade ainda não está em clima de festa. Enquanto a Prefeitura de Garanhuns anuncia que o evento teve um público recorde de 1,8 milhão de pessoas em 2024, muitos trabalhadores da área de comércio e turismo observaram uma movimentação abaixo do que era visto em edições passadas e agora se preparam para a nova edição do festival com mais cautela.

A reportagem do Diario conversou com comerciantes da cidade que observaram uma baixa nos serviços de 40% a 50% menor em relação a 2023, por exemplo. Segundo os relatos, bares que costumavam triplicar o seu estoque habitual para atender a demanda do FIG, desta vez se preparam de maneira mais modesta para evitar prejuízos.

Proprietária do Rose Maison Hair, Maria Roselania Costa da Silva vê uma queda na movimentação desde 2023. “Antigamente, um mês antes do Festival, o pessoal já começava a se preparar para o evento, mas nesses dois últimos anos o movimento não mudou praticamente nada em comparação aos dias comuns”, observa ela, cujo salão de beleza tem 30 anos e fica no bairro de Heliópolis, que é referência na oferta de serviços.

A empresária não consegue identificar o que teria provocado a mudança, mas percebe que o público do FIG já não gasta tanto na cidade como antigamente. Seu ponto de vista é compartilhado também por alguns corretores de imóveis que costumam alugar casas em Garanhuns para visitantes durante o período do Festival, como Márcio Elifas, que atua no setor desde o primeiro FIG, em 1990.

“As pessoas agora pedem um preço fora da realidade e, de uns dois anos para cá, a procura por casa diminuiu”, observa ele, que ainda não tinha alugado seus imóveis disponíveis quando conversou com a reportagem. O corretor atribui parte da redução da demanda à mudança de perfil dos visitantes.

Segundo ele, nos últimos anos, muitos turistas vêm de regiões próximas e têm ido ao festival em viagens do tipo “bate-e-volta”, ou seja, com o intuito de ver apenas uma noite de shows e voltar para a cidade natal logo após o fim das apresentações. “Não é mais aquelas pessoas que vinham para gastar dinheiro como antes”, analisa.

Responsável por dois imóveis, a comerciante Soraya Pereira de Lima também percebe que ficou um pouco mais difícil alugar casas para o período nos últimos anos. Acostumados a alugar seus imóveis para o mesmo grupo de pessoas para todos os dias do Festival, os proprietários agora alugam seus espaços para grupos de pessoas diferentes a cada final de semana.

Dentro dessa nova dinâmica, poucos dias atrás, Soraya só havia conseguido alugar seus imóveis para o final de semana de 24 a 27 de julho. “Desde que tirou a programação de alguns pólos durante a semana, a movimentação ficou assim. Mas a gente consegue alugar, as pessoas só estão demorando mais”, disse ela, que aprova a programação do Festival mesmo após as mudanças e ainda confia no seu potencial.

Em seu estabelecimento comercial, dedicado a artigos infantis, entretanto, ela reconhece outra baixa na venda de adereços de frio durante os últimos anos do Festival, em comparação a edições que aconteceram antes da pandemia da Covid-19.

Pesquisas indicam mudança de público

Pesquisas da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) realizadas nas edições do FIG de 2022 e 2024 sobre o perfil dos visitantes do Festival evidenciam dados que apontam para a mudança no público que frequenta o evento. Um dos indicadores mais relevantes se refere à ocupação hoteleira durante o período, revelando uma queda crescente nos últimos anos.

Em 2022, ainda sob a produção do Governo do Estado, na gestão Paulo Câmara (PSB), o FIG contou pela primeira vez com uma programação mais extensa, totalizando 16 dias de atividades. Durante os três finais de semana do festival, a taxa de ocupação da rede hoteleira chegou a 87,4%, enquanto que em 2024, já sob a produção da Prefeitura de Garanhuns, na gestão Sivaldo Albino (PSB), a taxa caiu para 84,13% no mesmo intervalo de tempo.

O número é reflexo das variações nas buscas pelos meios de hospedagem, sendo a rede hoteleira a mais afetada pelas mudanças, segundo as pesquisas. Em 2022, os hotéis eram o meio de hospedagem contratado por 19,09% dos visitantes do FIG, enquanto que apenas 11,15% deles escolheram o mesmo tipo de estalagem em 2024.

Atrelado a esse último dado, a proporção de excursionistas e turistas entre os visitantes do FIG também teve alterações significativas. De acordo com o material, o percentual de turistas que passam mais de um dia na cidade caiu de 87,58% para 55,05% de 2022 para 2024. Enquanto que o percentual de excursionistas, ou seja, aqueles que não pernoitam na cidade, subiu de 12,42% para 44,95% de 2022 para 2024.

Ainda assim, os profissionais da área de turismo ainda têm boas expectativas para o Festival. “Dois anos atrás tivemos uma queda grande e este ano a procura ainda está meio escassa, mas a perspectiva é de que lote tudo sim”, comentou Daiana Tenório, gerente do hotel Village Confort Garanhuns há 18 anos.

No final de junho deste ano, quando conversou com a redação do Diario, ela disse que o hotel ainda tinha disponibilidade para praticamente todos os dias, com exceção do segundo final de semana (17 a 20 de julho), que já estava lotado.

O hotel do Sesc Garanhuns, por outro lado, não tem mais vagas para nenhuma data do FIG e ainda conta com fila de espera. “Este ano foi atípico, assim que soltaram a programação, conseguimos lotar. Já no ano passado, tivemos muito problema, foi terrível para a gente da hotelaria”, indica Roseana Lima, gerente adjunta do estabelecimento há 22 anos.

De acordo com a profissional, a mudança do público é percebida pela equipe do hotel, que é mais solicitada para passar informações sobre Garanhuns. “Eles vêm para desbravar a cidade mesmo”, ressalta ela.

Em paralelo a essa observação, as pesquisas recentes realizadas pela Empetur também apontam para uma mudança na motivação principal da viagem dos turistas no período do FIG. Em 2022, a maioria dos visitantes (50,50%) declarou ter tido o festival como motivação principal. Já em 2024, a maioria (52,96%) declarou ter viajado por conta do passeio.

Prefeitura nega baixa movimentação

Procurada pela reportagem do Diario, a Prefeitura de Garanhuns, por meio da Secretaria de Cultura, nega que a movimentação do FIG 2024 tenha sido menor do que a de edições anteriores ao evento. Em nota, a gestão municipal diz ter registrado público na Praça Mestre Dominguinhos “irrefutavelmente superior ao público presente em 2023, quando o evento foi realizado pelo Governo do Estado e o espaço esteve completamente esvaziado, prejudicando toda a cadeia produtiva que é beneficiada anualmente pelo Festival”.

O texto segue afirmando que, em 2025, “a grande maioria dos hotéis e pousadas tem registrado ocupação superior a 90% e alguns outros não possuem mais leitos disponíveis”. A nota ressalta que a programação de todos os pólos teria sido divulgada com 38 dias de antecedência, enquanto que a “grade nacional” da Praça Mestre Dominguinhos saiu com 120 dias de antecedência, para facilitar o planejamento dos turistas e dos setores beneficiados pelo FIG.

No pronunciamento, a gestão municipal ainda alega ter tomado a decisão de assumir a realização do evento por reconhecer a relevância do Festival para a cultura pernambucana e nacional. Ainda segundo a nota, “partindo principalmente desta concepção de grandiosidade, a curadoria e construção da programação artística são realizadas por meio de processo técnico de análise de mérito artístico e cultural das propostas recebidas via edital e curadoria interna, além de escuta da sociedade civil”. Entretanto, não foi informado quais profissionais fizeram parte do processo.

Questionada sobre a ausência dos pólos de cinema e literatura em 2025, a gestão municipal diz que a programação das linguagens está garantida. Porém, não respondeu onde seria possível ver as atividades desses segmentos.

A Prefeitura de Garanhuns também informou através da nota que a o Festival de Inverno de Garanhuns é viabilizado por recursos próprios do município, com apoio e incentivo de parceiros institucionais, como o Governo do Estado de Pernambuco, e outros patrocinadores privados captados através de chamamentos públicos.

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