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CRÍTICA

'M3gan 2.0', em cartaz no Recife, só cresceu de tamanho

Continuação do sucesso comercial de 2022 substitui o terror pela ficção científica de ação genérica em trama inchada de exposição

Andre Guerra

Publicado: 27/06/2025 às 13:00

Filme faz ampla defesa do uso da Inteligência Artificial/Universal/Divulgação

Filme faz ampla defesa do uso da Inteligência Artificial (Universal/Divulgação)

Na virada de 2022 para 2023, chegava aos cinemas uma ideia simples que conquistou o público em níveis inesperados. M3gan, dirigido por Gerard Johnstone a partir do roteiro de Akeela Cooper, fazia uma mistura funcional de Brinquedo Assassino com o contexto de Inteligência Artificial através da história de uma menina, Cady (Violet McGraw), que perdia o pais em um acidente de carro e ia morar com sua tia Gemma (Allison Williams), uma prodigiosa desenvolvedora de robôs que resolvia criar para a sua nova filha uma amiga androide para lhe fazer companhia.

Quem assistiu ao filme original sabe que tudo daria muito errado, já que a personalidade de M3gan, a robô, se revelava mais incontornável do que sua superfície de titânio. As portas do terceiro ato já deixavam bem aberto o espaço para a continuação, que, dado o sucesso comercial, seria inevitável. Já em cartaz nos cinemas do Recife, portanto, M3gan 2.0 vem para transformar a vilã de metal na única aliada possível em uma escalada de novos perigos. 

Agora Gemma e Cady estão na mira de misteriosos agentes do FBI que estão em busca de localizar e deter uma outra super-robô chamada Amelia. Mesmo contra a sua vontade, a Robiticista entende que a única solução para a nova ameaça é dar um novo corpo a M3gan, que nunca foi embora de verdade da casa. 

No convoluto processo, M3gan 2.0 abandona completamente o terror, predominante no longa original, e abraça as convenções da ação e da ficção científica, flertando amplamente com modelos clássicos do cinema de super-heróis, enquanto reverencia descaradamente o clássico O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final.

Fosse Gerard Johnstone um cineasta com gosto para o trash ou apetite visual verdadeiro, essa opção pela ação de robôs poderia resultar em um pastelão espirituoso, já que alguns conceitos são pontualmente interessantes no papel. Na tela, porém, tudo parece um emaranhado de tramas genéricas explicadas em excesso para a plateia em diálogos longos e mais mecânicos do que as próprias máquinas do filme. 

A produção em relação ao projeto original, em uma primeira vista, parece ter crescido bastante também, mas a estrutura é tão derivativa, e as interpretações tão carentes de gosto pelo absurdo, que o resultado parece sempre uma tentativa de esticar mais a história (o terceiro ato é particularmente interminável).

Ainda mais preocupante em M3gan 2.0, no entanto, é a tendência já identificável em alguns trabalhos contemporâneos (ResistênciaAcompanhante PerfeitaThe Electric State) que, com maior ou menor desfaçatez, advogam em prol da humanização ou ampla receptividade da Inteligência Artificial. Neste caso em particular, soa até como uma versão antônima do primeiro M3gan, em que o perigo da boneca robótica era tratado com tensão cômica e superficial, mas evidente.

Nesta continuação feita sob fins descaradamente mercantilistas e desprovida de ideias verdadeiras, sobra abraçar de vez as máquinas — como se elas mesmas estivessem escrevendo o roteiro. Não será surpresa se tiver sido o caso.

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