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'Missão Impossível: O Acerto Final' eleva risco e peso dramático

Suposto último filme da saga do agente Ethan Hunt, vivido pelo astro Tom Cruise, satisfaz em todas as suas ambiciosas apostas de ação

André Guerra - Enviado especialu

Publicado: 21/05/2025 às 10:00

No novo filme, Tom Cruise faz dois dos maiores stunts de toda a sua carreira/Paramount/Divulgação

No novo filme, Tom Cruise faz dois dos maiores stunts de toda a sua carreira (Paramount/Divulgação)

Quase 30 anos separam o novo capítulo de Missão Impossível da obra que começou esse sucesso, em 1996, com direção de Brian De Palma. Baseado na série de TV homônima dos anos 1960, aquele filme foi responsável por estabelecer a força do Tom Cruise como o maior astro de ação contemporâneo como ainda uma linha mestra de elementos que seriam aprimorados nos capítulos posteriores. Missão Impossível: O Acerto Final, exibido no Festival de Cannes 2025 e com estreia amanhã nos cinemas do Recife, é uma culminação das várias influências da franquia com seu legado histórico.

Durante quatro incursões, cada longa era dirigido por um cineasta novo: no segundo, Jon Woo; no terceiro, J. J. Abrams, e, no quarto, Brad Bird. Tudo mudou com a Christopher McQuarie, que, após o sucesso de Missão Impossível: Nação Secreta, comandou também Efeito Fallout e Acerto de Contas: Parte 1. O cineasta, juntamente com Tom Cruise (produtor da marca), idealizou os dois últimos como complementares, já que o grande objetivo de Ethan Hunt segue o mesmo: impedir a inteligência artificial A Entidade de sair do controle.

As duas características centrais que McQuarrie e Cruise vêm consolidando desde o quinto filme são a grandiosidade da ação, filmada com o máximo possível de efeito prático, e a elegância do balé entre elenco e fotografia. No sexto e no sétimo, esse equilíbrio chegou em um ápice que dificilmente se manteria em um último filme, já que desfechos possuem limitações que ficam claras aqui em O Acerto Final. Com todas essas amarras, o oitavo é incrivelmente sólido — e, na ação, superlativo.

O ritmo continua extraordinário e o fato de toda a complexa trama ser o tempo inteiro explicada em diálogos milimetricamente ensaiados só torna a natureza da ação ainda mais essencial. É como se o texto fosse uma introdução musical para o refrão: Tom Cruise se submetendo aos mais extremos riscos de vida em função do entretenimento.

A capacidade dos últimos cinco filmes da série de incorporar esses stunts de ação ao enredo e fazer a plateia sentir o perigo real é um triunfo que nenhuma outra saga hollywoodiana tem em suas mãos — e do qual O Acerto Final tira as mais largas vantagens — em especial na extraordinária cena do submarino, no segundo ato, e nos batalha de aviões no clímax, possivelmente a mais tensa de toda a franquia.

O atro/produtor reduziu personagens secundários (especialmente as mulheres, como Rebecca Ferguson e Vanessa Kirby) para chegar acompanhado basicamente de Grace (Hayley Atwell) e dos velhos amigos Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames), fechando o cerco em torno de si e desafiando tanto sua fisicalidade quanto intensidade dramática.

Era de se esperar que, no último filme, Missão Impossível levasse à máxima potência tudo aquilo que se tornou a grife da série. A presença do maior astro de ação do mundo no centro da câmera e no controle dela talvez seja a maior dessas marcas de prestígio e Cruise, ciente disso, explora sua imagem de todas as formas que consegue em O Acerto Final.

Sintonizada com essa megalomania, a direção consegue ser um ponto de sobriedade que impede o protagonismo de Hunt de sobrepujar a presença dos excelentes atores em volta. O fato de toda a complexa trama ser o tempo inteiro explicada em diálogos milimetricamente ensaiados só torna a ação mais essencial, como se o texto fosse uma introdução musical para o refrão (Tom Cruise se submetendo aos mais extremos riscos de vida em função do entretenimento).

No caminho em direção ao confronto com o vilão, Gabriel (Esai Morales), que materializa o antagonismo da inteligência artificial a fim de tornar o conflito mais inteligível para o público, O Acerto Final não tem um roteiro tão polido quanto seus dois antecessores. Frequentemente personagens são abruptamente adicionados para alterar o curso da trama ou somem sem qualquer explicação cabível (como no caso do núcleo do mar), o que torna o miolo eventualmente convoluto e afobado.

Qualquer irregularidade deste oitavo capítulo, no entanto, é compensada por algumas das mais impactantes set pieces de ação do cinema americano contemporâneo, como a ambiciosa sequência do submarino, cheia de níveis e fases em si mesma, e a insanamente concebida batalha dos aviões monomotor. Para os que sempre gostam da brincadeira, Missão Impossível: O Acerto Final é um bolo de chocolate que se despede prometendo mais.

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