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Uma onda de educação e cuidado ambiental no litoral sul de Pernambuco

ONG Onda Limpa para Gerações Futuras atua há 17 anos promovendo cuidado e educação ambiental na Praia de Itapuama, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, no litoral sul de Pernambuco

Nicolle Gomes

Publicado: 05/11/2025 às 20:14

ONG Onda Limpa para Gerações Futuras/Divulgação

ONG Onda Limpa para Gerações Futuras (Divulgação)

Destino popular do litoral Cabo de Santo Agostinho, a Praia de Itapuama é conhecida e frequentada por surfistas, ciclistas e banhistas. A partir da presença humana, a praia sofre historicamente com muita poluição. Após o feriadão de 7 de setembro de 2008, as areias de Itapuama ficaram repletas de lixo. Um grupo decidiu promover uma ação de cuidado e educação ambiental: assim nasceu a ONG Onda Limpa para Gerações Futuras.

Há 17 anos a ONG atua em prol da preservação das praias do litoral do Cabo de Santo Agostinho, com foco na Praia de Itapuama. Estevão Santos da Paixão, de 47 anos, ativista das causas ambientais, esteve a frente da organização todo esse tempo.

“Teve um feriado do 7 de setembro de 2008. Foi muito impactante na praia porque o vestígio que ficou de um feriadão foi muito resíduo e lixo. As pessoas conheciam meu trabalho em outro projeto, todo mundo me chamou. Decidimos fazer uma caminhada ecológica na praia no feriado mais próximo, que era o dia 12 de outubro. A prefeitura tinha um projeto chamado ‘Onda Limpa’ também. Para não copiar, a gente ia fazer desde as crianças, não só uma ação de caminhada. Como era o dia das crianças, foi pensado ‘Onda Limpa para Gerações Futuras’. Foi daí que surgiu a primeira ação, uma campanha ecológica”, conta ao Diario.

As ações são motivadas, segundo o presidente da Onda Limpa, pela esperança de um futuro no qual a natureza possa ter mais atenção e preservação, para que as gerações que virão possam usufruir. Segundo Estevão, algumas ações já chegaram a mobilizar 300 pessoas.

“A importância do trabalho que a gente faz é que a gente tenta preservar o espaço que nós vivemos. O espaço que é hoje tão avariado, o homem busca sair do planeta com evoluções digitais, mas a gente não cuida do nosso próprio espaço aqui na Terra. Que é algo que tem tudo, aqui ao nosso dispor, ar, água, terra para morar e cultivar e nem isso tem o nosso próprio zelo. E se a gente tivesse esse olhar, e zelar pelo nosso próprio espaço, também traria a possibilidade das gerações futuras também usufruírem disso tudo que ainda existe”.

Ação

A ONG já colheu resultados significativos em conscientização, redução de resíduos e proteção da fauna local, tornando-se referência em preservação ambiental com forte componente sociocultural: nos últimos 8 anos, foram cerca de 7 toneladas de lixo retiradas das praias durante as ações de coleta seletiva. Na crise dos vazamentos de óleo, em agosto de 2019, a Onda Limpa esteve promovendo limpeza no balneário de Itapuama.

“No decorrer desses 17 anos, a gente tem algumas batalhas vencidas aqui na praia, muito significativas para a gente. A preservação da Maria Farinha, que é bioindicador, o trator de areia da praia, estava dizimando a espécie, conseguimos mitigar isso. O vazamento de óleo, em agosto de 2019, nossa sede foi um dos locais que mais deu possibilidade de manusear esse material. A gente teve esse material aglutinado, toneladas de petróleo lá em Itapuama, e conseguimos dar distribuição final desse material”, relembra.

A Onda Limpa atua como um agente ativo nas limpezas mas também como fiscal do poder público em prol das necessidades da praia. O grupo monitorou a desova de tartarugas por 4 anos. Hoje, luta para que instalações na praia não atrapalhem o processo de reprodução dos animais.

“A gente tá buscando junto aos órgãos públicos providências sobre a incidência de iluminação artificial nas praias, principalmente Itapuama, para que a desinstalação de alguns refletores colocados nas praias, que estão ofuscando as tartarugas a vir desovar. Pelo estudo que fizemos, o impacto de qualquer tipo de lâmpada artificialmente focada na praia é prejuízo às tartarugas”.

Resistência

Estevão compartilha que lutar pela proteção e manutenção da limpeza das praias é um processo cansativo, como o de “enxugar gelo”.

“Nesses 17 anos em que tivemos trabalhando esse propósito, com a questão do resíduo sólido, não mudou muita coisa. E eu não tenho muita estimativa que mude não, porque a nossa sociedade ela é muito carente dessa questão da educação ambiental. O resíduo parece que até ampliou mais ainda. Parece é como se tivesse dado um monte de ponta de faca. Cada vez mais que você tira lixo da praia, mais e mais resíduo se encontra na praia”.

Apesar da dificuldade de lutar por esse propósito, Estevão conta que consegue ver os resultados das ações promovidas pela ONG em Itapuama.

“De lá para cá a gente conseguiu fazer esse trabalho de conscientização ambiental e educação ambiental. A gente vê que foi muito positivo na praia de Itapuama, o trabalho tem sido desenvolvido e trouxe alguns resgates de uma praia mais limpa, hoje Itapuamã é uma das praias mais limpas do litoral Cabense”.

E segundo o presidente da Onda Limpa, a luta não para. Estevão quer continuar com o projeto no qual acredita pela natureza e futuro das próximas gerações.

“Eu acho que a atitude da gente é continuar fazendo o que vem fazendo. E a nossa expectativa para o futuro, a possibilidade dessa continuidade (no projeto). A gente vê as mudanças climáticas e o aquecimento global, quem vai se impactar mais ainda não é nem a gente, mas tem as gerações futuras. Eu acho que o melhor relato para tudo isso é que a gente possa cuidar do nosso espaço, não só para hoje, mas sim para as gerações futuras”.

A ONG sobrevive de doações e engajamento da população local. Interessados em colaborar podem fazer doações na chave PIX (81) 994399198.

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