° / °
Vida Urbana
DENÚNCIA

Caso Felca: Presos em Olinda são denunciados por invadir dispositivos para vender dados sigilosos

Acusados confessaram crimes em interrogatório e detalharam esquema que incluía venda de acessos a sistemas governamentais

Felipe Resk

Publicado: 09/09/2025 às 13:28

Cayo Lucas foi preso na manhã desta segunda (25)/Reprodução de vídeo/PCSP

Cayo Lucas foi preso na manhã desta segunda (25) (Reprodução de vídeo/PCSP)

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denunciou, no domingo (7), os dois presos na operação contra ataques ao youtuber Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, por invadir dispositivos informáticos para vender dados sigilosos.

Os acusados são Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, que já era investigado por uma série de crimes cibernéticos, e Paulo Vinicius de Oliveira Barbosa, de 21, que até então estava fora do radar da polícia e alega inocência, foram presos em Olinda, no Grande Recife. A ação aconteceu no dia 25 de agosto.

Na hora da batida policial, eles teriam sido flagrados acessando o “Polícia Ágil”, plataforma de uso restrito da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco. Na denúncia, obtida pelo Diario de Pernambuco, a promotora Isabel de Lizandra Penha Alves, do MPPE, afirma que o login havia sido adquirido, de forma ilícita, por R$ 300 pelo Telegram.

Os dois teriam admitido o crime em interrogatório. “O denunciado Cayo Lucas confessou ser o notório hacker conhecido como ‘f4llen’, detalhando um vasto esquema criminoso que ia muito além da mera consulta de dados”, diz a promotora. “Ele admitiu que sua principal fonte de renda era a invasão e a venda de acessos a sistemas governamentais sigilosos.”

O MPPE afirma que Paulo Vinicius também teria confessado que realizava consultas cadastrais ("puxadas") e vendia as informações obtidas a terceiros, cobrando valores entre R$ 20 e R$ 50 por consulta. O advogado dele, no entanto, nega.

Investigação

A operação que prendeu Cayo Lucas e Paulo Vinicius começou com uma investigação em São Paulo. Na ocasião, a polícia paulista apurava ameaças de morte e estupro a uma psicóloga que participou de um dos vídeos de Felca. O youtuber foi responsável por denunciar a “adultização” e exploração de crianças nas redes sociais.

Segundo a investigação, os ataques foram orquestrados e executados por uma organização criminosa digital, chamada Country, que também estaria envolvida em casos de pedofilia, estupros virtuais e ameaças a autoridades. De acordo com o inquérito, o grupo já teria feito cerca de 400 vítimas no país.

Em alguns casos, meninas extorquidas pelo bando eram obrigadas, em fotos ou chamadas de vídeo, a se expor sexualmente e praticar automutilação. Também há suspeita de que integrantes do grupo estejam envolvidos em casos de apologia ao nazismo, esquartejamento de animais e ataques a pessoas em situação de rua.

Na investigação, a Polícia Civil paulista concluiu que um dos autores das ameaças era um adolescente de 17 anos, morador de Arapiraca, em Alagoas, que já foi apreendido. Já o outro autor seria Cayo Lucas. Ele nega fazer parte da Country e dos ataques a Felca.

Conforme revelou o Diario, ele já havia sido denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), na semana passada, pelos crimes ameaça, associação criminosa e corrupção de menor.
Presos

No inquérito, Cyo Lucas é apontado como especialista na “comercialização de logins governamentais”. Segundo a Polícia, ele conseguia invadir até login de juízes e chegou a disparar, no dia 13 de agosto, um mandado de prisão falso contra Felca.

Em interrogatório, o investigado confessou que invadia sistemas oficiais e afirmou já ter faturado mais de R$ 500 mil com a venda de documentos falsos. Por um alvará de soltura fraudado, por exemplo, ele cobrava R$ 15 mil.

Para lavar dinheiro, Cayo Lucas usava conta de laranjas e investimentos em criptomoeda. Após a prisão, a irmã dele chegou a ir à delegacia para entregar um celular e avisar à polícia que já havia emprestado contas bancárias a ele.

Segundo o inquérito, o acusado teria acesso ilegal aos sistemas do Judiciário, da Saúde e de polícias de ao menos três estados: Pernambuco (“Polícia Ágil”), Ceará (“Cerebrum”) e São Paulo (“Analítico”). Também seria responsável por invadir bancos de dados e acessar dados sensíveis de possíveis vítimas do grupo.

“De forma estarrecedora, Cayo Lucas revelou que oferecia um portfólio de ‘serviços’ ilícitos”, registra a promotora, na denúncia. “[Ele] detalhou que seus ‘serviços’ incluíam desde a emissão e revogação fraudulentas de mandados de prisão no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) até a alteração de dados no sistema do SUS e na Receita Federal.”

O Diario não localizou a defesa de Cayo Lucas. Já o advogado Rafael Timotio, que representa Paulo Vinicius, diz que ele “não possui qualquer envolvimento nos fatos mencionados” e “provará sua inocência”.
“Ressaltamos que ele é pessoa de conduta ilibada, jamais participou de qualquer prática ilícita e repudia veementemente as acusações infundadas que lhe foram atribuídas”, afirma a nota.

“O Sr. Paulo Vinícius tem consciência de que a instrução criminal é o meio hábil de exercer o direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, e de provar sua inocência, razão pela qual será o meio que possibilitará o exercício de sua ampla defesa e contraditório”, diz. “Confiamos que, no decorrer da marcha processual, a verdade será restabelecida e a completa inocência do Sr. Paulo Vinícius Barbosa restará demonstrada, afastando qualquer dúvida acerca de sua idoneidade".

Mais de Vida Urbana

Últimas

WhatsApp DP

Mais Lidas

WhatsApp DP