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Vida Urbana
Guerra de facções

Chacina no V8 aconteceu depois da soltura de traficante; saiba quem são as vítimas

Quatro pessoas foram mortas duas semanas após Lucas Ferreira de Souza ter deixado o sistema prisional. Os assinatos foram motivados pelo conflito entra as facções das comunidades V8, V9 e Ilha do Maruim

Marília Parente

Publicado: 16/08/2025 às 09:00

Confronto entre facções deixa quatro mortos na comunidade do V8, em Olinda/Reprodução/Tv Globo

Confronto entre facções deixa quatro mortos na comunidade do V8, em Olinda (Reprodução/Tv Globo)

Maciel Humberto Barbosa, de 34 anos, Rafael Falcão Cunha, de 30 anos, Eduarda Santos Almeida, de 29 anos, e Belgami França de Sousa, conhecido como “Berg”, de 34 anos, são os nomes das vítimas fatais do conflito registrado entre integrantes de facções das comunidades do V8, V9 e Ilha do Maruim, em Olinda, na madrugada da sexta-feira, 8 de agosto.

As mortes aconteceram apenas duas semanas depois que Lucas Ferreira de Souza, de 25 anos, deixou o sistema prisional, após dois anos de reclusão por tráfico de drogas. Irmão de “Berg”, ele foi a única pessoa presa no dia da chacina e chegou a ser filmado, na porta da delegacia, prometendo vingança pela morte do irmão.

“Pode dizer a Balakinha, Vitor Soro, Moqui, a tudinho, que eu vou invadir a casa de tudinho. Mataram meu irmão inocente. Foi Balakinha, Deivinho, Vitor Soro. Mataram meu irmão agorinha, trabalhador”, declarou Lucas.

O Diario de Pernambuco teve acesso aos depoimentos das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil após a prisão. Os relatos esboçam o funcionamento das facções que atuam no tráfico de drogas da área.

O homicídio de Berg
Os relatos apontam que o conflito teve início quando dois homens, identificados como “Moqui” e “Smith”, souberam da soltura de Lucas e foram à casa de sua mãe, na Ilha do Maruim, para ameaçá-lo. Segundo Guilherme Ferreira de Souza, seu irmão, a dupla disse que iria “arrancar a cabeça de Lucas”.

Guilherme, então, começou a procurar um local seguro para levar sua mãe. Apesar disso, por volta das 3h da madrugada, um grupo de 20 indivíduos chegou à residência da mulher, dentre os quais estariam os homens identificados como “Deivinho”, “Vitor Soro”, “Moqui” e “Smith”.

Eles teriam efetuado diversos disparos contra a casa e queimado a moto de Guilherme, que diz ter conseguido fugir do local. Ao perceber a presença de chamas nas proximidades de sua casa, ele decide voltar ao local, onde encontra sua moto incinerada. Segundo ele, o grupo que foi até a residência de sua mãe é responsável pelo homicídio de Berg.

Irmão de Lucas, Guilherme e Berg, Tiago Ferreira dos Santos também depôs para as autoridades. Ele disse que também estava na casa da mãe no momento do atentado, tendo corrido para um quarto na companhia dela e da sobrinha, de cinco anos.

Berg teria sido morto a tiros na sala de estar, depois de abrir a porta para o grupo. Nos depoimentos, Tiago garantiu que o irmão morto estava procurando emprego e que, assim como Guilherme, não era envolvido com atividades ilícitas.

Segundo o relato, no ano passado, Berg teria sido expulso do V8 em meados de junho do ano passado. Em setembro, contudo, ele decidiu voltar a morar na comunidade.

As mortes de Maciel, Rafael e Eduarda
Irmão de Maciel, Deivid Escócia Barbosa, conhecido como Deivinho, disse que estava na casa da mãe, no V8, quando ouviu tiros vindos da Ilha do Maruim às 2h30. Meia hora depois, de cima de sua laje, ele afirma ter visto Lucas, Berguinho do Maruim, “Tchelo da Ponte Preta”, Vitor Inácio (conhecido como ‘Vitão’), “Talison da Ponte Preta” e cerca de nove homens nas ruas da comunidade.

Momentos depois disso, o grupo teria dado início aos disparos que mataram Maciel, Rafael e Eduarda. Segundo Deivid, desde que saiu da prisão, Lucas já vinha “aterrorizando a comunidade” do V8 com ataques realizados em parceria com seus comparsas. Ele também confirmou conhecer “Moque”, “Vitor Soro” e “Balakinha”.

Relato de Lucas
Aos investigadores, Lucas disse que o triplo homicídio foi praticado pelo “pessoal do Maruim”. Embora tenha confirmado integrar o grupo, ele negou envolvimento com as mortes.

Em depoimento, ele disse que, às 3h da manhã do dia da chacina, recebeu uma ligação de um indivíduo chamado “Cauã”. No telefonema, ficou sabendo que um grupo, que inclui “Deivinho”, “Vitor Soro”, “Moqui”, “Smith”, “Catombo”, “Raoni” e “Goga”; estava indo para a casa de Guilherme, na Ilha do Maruim, com o objetivo de matá-lo.

O informante havia dito ainda que o grupo teria efetuado diversos disparos para cima na frente da residência de Guilherme. Lucas, então, diz ter resolvido socorrer o irmão, acompanhado por “João” e “Mateus”, todos armados.

O grupo, contudo, não chegou a ir até a Ilha do Maruim. Eles decidiram se deslocar para o V8, com o objetivo de promover uma vingança contra o grupo de Balakinha, que se identifica como “Comando Vermelho ou Trem Bala” e contaria com o apoio de um policial, conhecido como “Mão”.

Lucas diz que, nas proximidades do V8, recebeu outra ligação, desta vez de uma tia que o alertou sobre as intenções do grupo rival de matar seu outro irmão, Belgami. Ele nega ter encontrado o grupo do Maruim, em razão de sua prisão, registrada às 5h.

Mateus e João, que conseguiram fugir, teriam sido os outros dois homens encontrados pelos policiais militares da Companhia Independente de Apoio ao Turista (Ciatur), nas proximidades de uma quadra poliesportiva no V8.

Após troca de tiros com os agentes, Lucas foi detido em um canal de esgoto. Com ele, foram apreendidas munições, uma pistola, dois revólveres e mais de 360 pedras de crack.

Suspeitos

São citados como integrantes do grupo de Balakinha:

- Victor Soro
- Moqui
- Smith
- Jefferson
- Deivinho
- Catombo
- Raoni
- Goga
- Mão (policial)

São citados como integrantes do grupo de Lucas:

- João
- Mateus
- Berguinho do Maruim
- “Tchelo da Ponte Preta”
- Vitor Inácio (conhecido como ‘Vitão’)
- “Talison da Ponte Preta”

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