PMs continuaram a receber salários apesar de investigação sobre extorsão
Policiais são acusados de integrar uma organização criminosa que extorquia, há dez anos, comerciantes do muncicípio de Abreu e Lima com a cobrança de uma "taxa de proteção"
Publicado: 23/07/2025 às 21:45

Portaria da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE) divulgou, no Diário Oficial desta quarta (23), a expulsão do ex-sargento da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) (Foto: Arquivo/SDS)
Acusados de integrar uma milícia em Abreu e Lima, no Grande Recife, seis policiais militares continuaram recebendo salários por pelo menos nove meses após terem sido presos temporariamente em 2024. Eles estão presos preventivamente no Centro de Reeducação da PM (CREED), por nova decisão da Justiça.
Segundo relatório do Grupo de Operações Especiais (GOE), a organização criminosa começou a ser investigada em 2023 e teria mais de uma década de atuação no município, realizando cobranças à comerciantes como “taxas de proteção”. O valor, conforme o relatório, variava entre R$ 40 e R$ 50 por semana. Aqueles que se recusavam a pagar eram ameaçados de ter os estabelecimentos saqueados.
São acusados de participar do esquema o PM reformado e ex-vereador de Abreu e Lima Rostand Cavalcanti Belém, os militares da reserva Jorge Lopes de Freitas e Robson Quintino dos Santos, e os PMs Edmilson Silva de Lima, Paulo Ditácio de Oliveira, Aprígio Juvenal de Arruda Neto.
Levantamento do Diario de Pernambuco no Portal da Transparência mostra que os PMs continuaram recebendo seus salários até o último mês de abril. Os dados de maio a julho ainda não estavam disponíveis para consulta, nem para os militares nem para outros servidores.
Salários
Segundo o Portal, os maiores valores recebidos, que totalizam R$ 10.952,48 bruto cada, são dos militares da reserva Robson Quintino dos Santos e Jorge Lopes de Freitas. Com os descontos de previdência e imposto de renda, eles receberam em abril R$ 8.608,01.
O cabo Edmilson Silva de Lima e o 2º sargento Paulo Ditácio de Oliveira receberam, em abril desse ano, R$ 7.270,54 e R$ 6.078,47, respectivamente. Neste mês em especial, o cabo obteve um adicional de R$ 1.890,50 por suas férias. Já o soldado Aprígio Juvenal de Arruda Neto recebeu R$ 4.674,60. Tais valores são líquidos e já com desconto.
Na denúncia do Ministério Público de Pernambuco, obtida pelo Diario, os cinco atuavam como “soldados executores”, sendo responsáveis pela patrulha da região. “Atuando através de controle armado, intimidavam e extorquiam moradores e comerciantes sob o pretexto de garantir a segurança contra criminosos na área de atuação”, diz trecho.
Por fim, Rostand Cavalcanti Belém é apontado pelo MPPE e pelo GOE como o líder da milícia. Cabo reformado da Polícia Militar, Rostand recebeu do Governo por sua aposentadoria R$ 5.218,17, com os descontos o valor líquido foi R$ 4.286,02.
Prisões
Em julho do ano passado, o grupo foi alvo de duas operações da Polícia Civil, Derrama e Escudeiros II. Para ambas, a Justiça decretou 13 mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão. O MPPE solicitou a prisão preventiva dos envolvidos na milícia, mas o pedido foi negado pela Vara Criminal de Abreu e Lima. O órgão recorreu, e, por unanimidade, os desembargadores da 2ª Câmara Criminal acolheram o recurso e decretaram a prisão dos réus.
Na decisão, os magistrados destacaram que as extorsões continuaram mesmo após a primeira prisão, com redistribuição de funções dentro do grupo e maior coação à população. “Isso corrobora com o decreto de prisão preventiva como medida de proteção à ordem pública”, afirma o texto.
Defesa
Por meio de nota, a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, que atua na defesa do réu Robson Quintino, afirmou que a denúncia do MPPE apresenta “argumentos falhos e genéricos” que “não vão se sustentar no decorrer da instrução processual”. Para a defesa, “restará consubstanciado, ao fim [do processo legal], a prova de inocência do Sr. Robson Quintino”.
“O réu apresentou-se espontaneamente ao CREED no dia seguinte à expedição da ordem de prisão preventiva”, diz o texto.
A defesa de Jorge Lopes de Freitas disse que “a inocência será provada no processo judicial”. Jorge sempre cumpriu todas as determinações judiciais, e que esta determinação seja revista, de forma a lhe permitir continuar respondendo aos termos do processo como sempre fez: com serenidade, respeito e confiança no Judiciário”, afirma em nota.
Ambas afirmaram que interpuseram recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o pedido de prisão preventiva.
No caso de Rostand Cavalcanti, seus advogados afirmou, em nota, que o réu “nega com veemência o fato que lhe é imputado”. “Ainda, nesse ponto, Rostand Cavalcanti Belém destaca que provará sua inocência nos autos do processo. E que confia em um julgamento justo, com o pleno e efetivo exercício das garantias constitucionais asseguradas a todo e qualquer cidadão”, finalizam.
Já Edmilson Silva, por meio de seus representantes, disse que “prefere se pronunciar após audiência de instrução”.
A defesa de Aprígio Juvenal esclarece, em resposta enviada ao Diario, que o processo está ainda na fase inicial e com certeza a inocência dele será provada. E que “qualquer acusação feita na fase policial ou inquisitorial, somente terá valor probatório quando revalidada durante a fase judicial,que ainda não iniciou.”
Paulo Ditácio, nem seus representantes, se pronunciaram até o fechamento desta reportagem.
Em nota enviada à redação, a SDS afirmou que durante o processo administrativo, os militares terão assegurados os direitos ao contraditório e à ampla defesa e, ao final, a apuração poderá resultar no arquivamento ou na aplicação de sanções disciplinares, conforme o Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco. Em relação aos vencimentos, a nota da SDS afirma que "como o processo judicial não foi concluído, os militares continuam recebendo seus vencimentos, em conformidade com o que estabelece a legislação vigente".

