"Quais as grandes obras depois do que meu pai fez?", diz João Campos
Em entrevista exclusiva ao Diario, nesta sexta-feira (12), porém, Campos destacou que "eleição é uma palavra que praticamente não está no vocabulário" e destacou, relembrando o pai, que a atual gestão não tem uma "grande transformação" para apresentar à população
Publicado: 12/12/2025 às 23:52
Prefeito do Recife, João Campos, em entrevista ao Diario de Pernambuco (Foto: Francisco Silva/DP Foto)
Prefeito do Recife e presidente nacional do PSB, João Campos (PSB) é um dos cotados para disputar o governo do estado em 2026 e já figura como favorito nas pesquisas com ampla vantagem. Em entrevista exclusiva ao Diario, nesta sexta-feira (12), porém, Campos destacou que “eleição é uma palavra que praticamente não está no vocabulário” e destacou, relembrando o pai, que a atual gestão não tem uma “grande transformação” para apresentar à população, sobretudo nas áreas de saúde e educação.
O prefeito ressaltou que sua parceria com o presidente Lula (PT) é uma “relação consolidada”, avaliou o atual momento do Congresso e afirmou que o PL da Dosimetria “não é adequado nem correto”.
Ele destacou algumas ações do mandato, como a previsão de iniciar no próximo ano a contenção do avanço do mar em toda a orla recifense, indo do Pina à divisa com Jaboatão e a primeira etapa do armamento da guarda municipal, que vai contemplar três grupos de policiais.
O gestor também afirmou que as pessoas querem fazer o “debate de lacração” sobre o projeto Distrito Guararapes e falou sobre o aumento no número de motos.
ELEIÇÕES
Vocês não me veem falando de eleição por aí, de antecipar a eleição. É uma palavra que praticamente não está no meu vocabulário. Eu tô fazendo dever de casa como prefeito, trabalhando ao extremo. A partir do momento que você tem força política e direciona para o que é bom para o Recife, é muito fácil andar em Brasília e conseguir coisa boa para a cidade. Isso faz toda a diferença.
PARCERIAS
Hoje tem uma relação institucional (com o governo do estado), um roteiro institucional que funciona. Agora, em relação ao presidente Lula, eu diria que você governar um estado ou uma cidade no momento em que Lula governa um país é uma grande oportunidade.
E eu tenho muita confiança na relação construída com o presidente Lula. Fui o primeiro presidente nacional de partido a declarar o apoio a ele para a (reeleição à) presidência.
Então é uma relação consolidada, não é uma relação de uma oportunidade, de chegar na véspera de uma eleição e correr para tirar uma foto, para fazer uma fala. Não é isso.
GESTÃO ESTADUAL
Quem tem que avaliar é quem está no dia a dia usando os serviços públicos. A grande questão que eu digo é a seguinte: se passaram três anos da gestão atual do estado e qual a grande transformação na saúde pública, do piso ao teto, estrutural, coisa grande, novos hospitais, ampliação de serviços, tecnologia, modelo de gestão, na ponta, a turma sentindo?
Eu lembro quando meu pai era governador que certa vez um amigo de infância dele estava lá em casa relatando que tinha visto alguma coisa no Hospital da Restauração, paciente na maca, confusão. E ele disse: “Vá lá e diga que até o meio do ano que vem está resolvido. Já inaugurei o primeiro, vou inaugurar os outros dois hospitais metropolitanos. Eu quero ver se eu não vou resolver a Restauração”. E ele fez.
Desconheço alguma grande transformação (do governo estadual) também na educação. Não conheço duas escolas inauguradas. Quais as grandes obras depois do que meu pai fez?
As pessoas esperam que a gente faça, entregue; que a gente possa transformar em resultado. Não vejo grandes resultados. Agora, quem tem que avaliar isso é o povo.
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CONGRESSO
O que aconteceu no Congresso (ocupação e expulsão do deputado Glauber Braga da Mesa da Câmara) é algo lamentável. O que me incomoda é essa falta de liturgia das coisas. O Congresso virar um ambiente da não-liturgia é uma péssima referência. Parece que agora é o espaço do vale-tudo. É um caminho que é ruim porque o caminho da barbárie. E a barbárie é antipolítica.
Tenho trabalhado para que tenha um Congresso melhor a partir de 2027. Eu acredito que o meu partido vai crescer nas eleições do próximo ano, pode ter uma bancada maior.
DOSIMETRIA
O projeto da Dosimetria é adequado nem correto. Além do conteúdo ser controverso, a forma é muito controversa. Você tem a prisão de um ex-presidente, tem o anúncio de candidatura do filho dele e você tem um projeto sendo aprovado na Câmara de 3h da manhã. Não é saudável o que foi feito.
PESQUISAS
Eu fico muito feliz com o resultado. Historicamente, eu não gosto de comentar pesquisa de forma pública porque eu acho que você, principalmente quem é dirigente partidário, quem é candidato, pré-candidato, não pode correr o risco de virar um comentarista de pesquisa. Mas eu fico feliz pelo reconhecimento, porque quando aparece uma pesquisa e coloca nosso nome muito bem posicionado, uma possível disputa eleitoral, isso é fruto da confiança, da expectativa.
ENGORDA
O Recife está fazendo esse dever de casa antes do estado fazer. A gente já tem um projeto executivo validado e em fase final de elaboração. Eu contratei o projeto antes de qualquer cidade ter um projeto. No final do primeiro semestre do ano que vem, eu contrato a obra. ou esperar o governo do estado fazer, eu vou esperar o governo federal fazer? Não. Eu não fico esperando alguém fazer. As pessoas votaram em mim para resolver o problema, enfrentar e buscar a solução.
Com o dever de casa feito, eu vou bater na porta do presidente Lula e vou dizer, presidente, olha aqui, vamos agir junto nessa obra? Porque é uma obra cara, de mais de R$ 400 milhões. A gente tá falando de Brasília Teimosa até a divisa com Jaboatão.
São etapas diferentes, então são soluções diferentes. Não é só você pegar a areia de uma mina e colocar na frente, não. Um dos principais componentes é você reduzir a força da onda. Então você constrói uma estrutura dentro do mar que reduz a força da onda e só isso o próprio mar já coloca areia em determinadas áreas, já protege.
A gente também estudou o impacto em toda a costa e fez a modelagem na bacia do Rio Tejipió e no estuário comum, que é uma área onde chega um braço do Capibaribe, o Rio Jordão e o Rio Tejipió.
O estudo da engorda, com o estudo do Tejipió e do estuário comum, a gente tem uma solução integrada que vê também sobre o aumento do nível do mar. Então, isso que está sendo feito, eu digo com toda certeza. Nenhum outro ente do estado de Pernambuco está fazendo o que o Recife está fazendo.
GUARDA ARMADA
Eu não estou armando ela toda de uma vez porque eu acredito que a gente vai ter que fazer um primeiro passo e a gente vai medir o resultado para decidir a expansão ou não. São três grupos prioritários de armamento da guarda: o Grupo Tático Operacional (GTO), a Brigada Ambiental e a Área de Controle Urbano.
Para isso ser feito, você tem uma burocracia gigante que está praticamente vencida para começar o treinamento, a aquisição das armas já está sendo feita, tudo para no início do ano estar armando a guarda. E vai ter aquisição de câmera (corporal) também junto com as armas.
CENTRO DA CIDADE
mais de 80% deve estar concordando com isso (medidas como o Distrito Guararapes). Será que quem está me ouvindo prefere que eu me apegue a 10% que reclama de um lado, 10% que reclama do outro ou é melhor estar com 80% que quer ver as pessoas morando no centro? Eu não estou aqui para fazer o que sempre foi feito.
Dos 10 edifícios que podem passar por uma concessão no centro da cidade, quantos deles são públicos? São imóveis privados, são imóveis privados que a prefeitura vai comprar para dar um fim público. É o inverso do que privatizar. Agora, as pessoas querem fazer o debate de lacração.
Quem modelou esse projeto é o BNDES, é uma prioridade para o banco. A gente vai conseguir falar mais de mil moradias no centro, de imóveis que são privados, repito, nenhum desses imóveis é da Prefeitura do Recife.
Quem fez esse projeto foi Jaime Lerner, o maior urbanista do Brasil. O projeto foi feito e a gente abriu consulta pública. Cadê as sugestões na consulta? A maior parte é só contra a privatização. Se tiver uma alternativa melhor que viabilize as pessoas morarem no centro e deixar de ter um bocado de prédio abandonado, sou o primeiro a concordar.
MOTOS
O maior desafio é o transporte ainda vinculado à moto. E o principal é a responsabilidade das empresas, o que eu acredito deveria ter sido feito a nível nacional. As empresas que trabalham com isso, elas precisam ter um nível de responsabilidade maior com a saúde pública. Agora, em relação ao que acontece em alguns locais, você tem restrição nos grandes centros urbanos.
A gente tá fazendo o que compete a gente. Eu tive uma reunião com a 99, onde a gente vai fazer um protocolo equivalente com o que o Rio de Janeiro fez, que é você poder ter acesso a todos os dados e você conseguir notificar os infratores de moto pra não deixar se credenciar em plataformas. Isso é uma coisa.
Segundo ponto, com isso a gente está cruzando os dados para fazer as intervenções viárias nas áreas de maior sinistro. Então assim, onde é que eu vou priorizar uma requalificação de via, um novo ordenamento de fluxo, são nas áreas de maior sinistro.
Terceiro ponto, uma agenda de formação muito maior, que é o que se tem sido inclusive debate também nacional e as cidades estão intensificando isso, principalmente com as plataformas, de você ter uma agenda de formação de segurança viária maior.
O gargalo disso (aumento na quantidade de motos) não será na mobilidade. Isso tende a ser um grande problema de saúde pública. Por isso, tem que sentar a Saúde com a área de Transportes e buscar uma solução conjunta.
NÚMEROS
Recife foi a cidade que mais expandiu a atenção básica do Brasil entre as capitais nos últimos quatro anos. A gente duplicou a equipe de saúde da capital. Tinham 2.500 atendimentos por mês para crianças com TEA no Recife, hoje tem 15 mil.
Quando a gente olha o censo, por exemplo, da educação, a gente multiplicou por 35 vezes os alunos em creche para a escola que tem uma necessidade de educação especial inclusiva.
Entre entregues e execução, são sete novas áreas (parques) em cinco anos. Nunca se fez tanta obra de proteção de encostas como se fez agora. O (Programa) Parceria tinha 150 obras por ano que eram feitas; a gente faz 1.300 obras todos os anos.
Foram 20 anos sem uma ponte. Em cinco anos, a gente lançou cinco pontes - duas inauguradas, a terceira inaugura no início do próximo ano e as outras duas que vão ser inauguradas nos próximos anos.
Eu fiz 400 salas de creche. Em fevereiro de 2026, 18 mil crianças estarão fardadas entrando numa escola com cinco refeições por dia.