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Política
Julgamento de Bolsonaro

Moraes vota para condenar Bolsonaro e o núcleo 1 por tentativa de golpe de Estado

Relator do caso, ministro Alexandre de Moraes apontou o ex-presidente Jair Bolsonaro como líder da organização criminosa que tentou tomar o poder

Guilherme Anjos e Mareu Araújo

Publicado: 09/09/2025 às 14:25

Relator do caso, ministro Alexandre de Moraes é o primeiro a votar no julgamento do núcleo 1 da trama golpista no STF/Foto: Rosinei Coutinho/STF

Relator do caso, ministro Alexandre de Moraes é o primeiro a votar no julgamento do núcleo 1 da trama golpista no STF (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus pela trama golpista de 8 de janeiro de 2023. O julgamento do chamado núcleo 1, composto pelos supostos líderes do golpe, segue agora para votação da Primeira Turma da Suprema Corte.

O voto de Moraes, relator do julgamento, foi apresentado nesta terça-feira (9) e durou aproximadamente 5h30. Ao longo da leitura, o ministro expôs provas apresentadas pela investigação, como minutas de documentos e trocas de mensagens entre os réus, e pôs Jair Bolsonaro como o chefe da organização criminosa que tentou tomar o poder no País. O ex-presidente alega inocência.

“Jair Bolsonaro exerceu a função de líder da organização criminosa, utilizando-se da estrutura do Estado brasileiro para a implementação de um regime autoritário de poder”, declarou.

“O líder da organização criminosa, exercendo cargo de chefe de Estado e chefe de governo da República Federativa do Brasil, uniu-se a indivíduos de extrema confiança para a realização das ações de golpe de Estado e ruptura das instituições democráticas, assim como todos os demais réus”, acrescentou.

Alternando falas irônicas e posicionamentos mais duros, o magistrado também recusou todos os pedidos formulados pelas defesas, atribuiu a tentativa de golpe à derrota eleitoral de Bolsonaro e citou o plano para matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio Alexandre de Moraes.

O chamado Plano Punhal Verde e Amarelo, que previa os atentados a autoridades, foi impresso pelo general Mário Fernandes antes de uma reunião com o ex-presidente em 2022.

“Não é crível achar que Mário Fernandes imprimiu [o plano Punhal Verde e Amarelo] no Palácio do Planalto, se dirigiu ao Palácio da Alvorada, onde estava o presidente, ficou uma hora e seis minutos e fez barquinho de papel com a impressão”, ironizou o ministro.

Julgamento é sobre autoria

Além de Bolsonaro, civis e militares de alta patente são acusados de integrar o chamado núcleo 1 do golpe. Entre eles, estão os generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, todos ex-ministros do governo bolsonarista.

Também são réus os delegados da Polícia Federal (PF) Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Completam a lista de acusados o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-despachante de ordens de Bolsonaro, e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.

Na leitura do voto, Moraes afirmou que estava em julgamento apenas a participação dos acusados na tentativa de golpe – e não a existência do crime em si.

“O que se discute é autoria, se os réus participaram, porque não há nenhuma dúvida, em todas essas condenações e mais de 500 acordos de não persecução penal, de que houve tentativa de golpe, que houve uma organização criminosa que gerou dano ao patrimônio público”, disse.

O ministro do STF apresentou provas de que Ramagem e Heleno teriam participado da criação de narrativas falsas, para descredibilizar as urnas eletrônicas e o Supremo, e das tentativas de fraudar o sistema de votação.

Contra Ramagem, presam mensagens enviadas a Bolsonaro. Já ao general Heleno é atribuída uma agenda com anotações golpistas, que a defesa alega se tratar de um objeto para simples registro de pensamentos individuais. “Querido diario”, ironizou Moraes, ao rebater a tese da defesa.

Delação de Cid

Moraes defendeu, ainda, a legalidade da delação de Mauro Cid, alvo de uma série de contestações das defesas dos réus. Durante o julgamento, no entanto, o magistrado evitou citar as omissões e contradições da colaboração, que estariam registradas no relatório do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

“A mera leitura dos termos demonstra a inexistência de qualquer contradição. Eventuais omissões dolosas, e essas são outras alegações feitas pelas defesas, não acarretam a nulidade das delações, mas exigem uma necessária a análise sobre a total ou parcial efetividade, e total ou parcial modulação dos benefícios pactuados”, afirmou.

O julgamento segue com o voto do ministro Flávio Dino.

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