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ELEIÇÕES PT

Edinho Silva assume presidência do PT com foco na base e no diálogo, diz especialista

Com apoio de Lula, vitória de Edinho Silva marca fim da gestão Gleisi no PT nacional e reposiciona partido em direção ao fortalecimento municipal e à ampliação da articulação

Cecilia Belo

Publicado: 07/07/2025 às 22:19

Votação para lideranças do PT acontece em vários municípios do estado/ Foto: Henrique Lima/PT-PE Divulgação

Votação para lideranças do PT acontece em vários municípios do estado ( Foto: Henrique Lima/PT-PE Divulgação)

O sociólogo e ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, foi anunciado presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) nesta segunda-feira (7), encerrando um ciclo de mais de dez anos da legenda sob o comando de Gleisi Hoffmann. Candidato da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), Edinho conseguiu a vitória no primeiro turno.

Ele teve 239,1 mil votos, ou 73,48% dos 342,3 mil votos de petistas de todo o País. O partido ainda precisa terminar de coletar as cédulas de Pernambuco, Bahia, Pará, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais, único estado que não realizou a eleição interna. O PT espera uma votação total de mais de 400 mil eleitores.

O cientista político e doutorando na UFPE, Bhreno Vieira, explicou como a vitória, construída com apoio direto do presidente Lula e da CNB, marca uma mudança de direção no partido. Segundo Vieira, o perfil da nova gestão tem como prioridade o fortalecimento da base, o municipalismo e a ampliação da interlocução com setores fora da bolha tradicional do PT.

“É o fim de uma era”, resume o cientista político. “Gleisi representou um período de enfrentamento, sobretudo em meio à crise política que envolveu o impeachment de Dilma Rousseff e as ações da Lava Jato. Edinho chega com o perfil de articulador e a missão de reconstruir a presença do partido a partir das bases, principalmente em estados onde o PT vem perdendo fôlego”, completa.

Ainda de acordo com o cientista político, a eleição de Edinho vem acompanhada da promessa de uma governança mais descentralizada, embora o próprio partido seja conhecido por uma estrutura interna altamente hierarquizada e burocrática.

Segundo Vieira, esse será um dos principais desafios do novo presidente: entregar uma gestão mais aberta sem romper com a organização consolidada. “A estrutura do PT não muda do dia para a noite, mas Edinho inicia uma tentativa de abrir diálogo com eleitores que hoje estão distantes da legenda”, afirma.

Vieira ressalta que a mudança ocorre em um momento estratégico, com a avaliação de Lula em queda em algumas regiões do país — inclusive no Nordeste. Ele acredita que a nova direção vá buscar uma reaproximação com públicos que foram centrais nas vitórias passadas, mas que hoje demonstram distanciamento, como os pequenos empreendedores, setores evangélicos e trabalhadores informais.

“É uma tentativa de alargar a base, voltando a mirar no eleitor comum, para além do sindicalismo clássico e da militância tradicional”, diz Vieira.

Para o cientista político, esse novo momento prepara o terreno para as eleições de 2026. “O PT sabe que há um eleitorado flutuante — algo entre 10% e 15% — que não se identifica nem com Lula nem com a oposição bolsonarista. A gestão de Edinho será central para tentar conquistar esse eleitor”, sentencia.

Carlos Veras vence com maioria em Pernambuco

Em Pernambuco, o deputado federal Carlos Veras foi eleito para o comando estadual do partido com 90% dos votos. A eleição em Pernambuco ocorreu em paralelo à nacional e consolidou o alinhamento entre Veras e Edinho Silva, que fizeram campanha juntos nos últimos meses.

“A vitória de Veras aqui (no estado) acompanha o movimento nacional. Ele também é uma figura de diálogo, especialmente com setores como a agricultura familiar e organizações sociais do interior. Isso ajuda a ampliar a presença do partido para além da capital e da Região Metropolitana”, observa o cientista político Bhreno Vieira.

Assim, segundo Vieira, a reeleição de Veras também fortalece a articulação do PT com o PSB do prefeito do Recife, João Campos, com quem o partido deverá dialogar para evitar disputas diretas nas eleições de 2026.

"A expectativa é de que a nova direção do partido, tanto no plano nacional quanto local, atue de forma mais pragmática, buscando alianças amplas e interlocução com diferentes segmentos. A sintonia deve facilitar a aplicação das diretrizes nacionais no estado e reduzir conflitos internos”, destaca Vieira.

 


* Com Informações da Estadão Conteúdo

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