Na sede da ONU, Lula diz que Israel promove "genocídio e limpeza étnica" em Gaza
Presidente discursou em conferência das Nações Unidas em defesa do Estado Palestino, realiza em Nova York, às margens da Assembleia Geral da ONU
Victor Correia - Correio Braziliense
Publicado: 22/09/2025 às 20:49

Presidente Lula em discurso na ONU, em Nova York (Ludovic MARIN / AFP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disparou nesta segunda-feira (22/9) fortes críticas às ações de Israel na Faixa de Gaza, e cobrou mais ações da comunidade internacional pela criação efetiva do Estado Palestino.
Lula citou que há “genocídio” e “limpeza étnica” ocorrendo no enclave, e que os ataques israelenses visam impedir a criação do Estado Palestino. O discurso ocorreu durante a Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, realizada na sede das Nações Unidas, em Nova York.
“Um Estado se assenta sobre três pilares: o território, a população e o governo. Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino. Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica à qual assistimos em tempo real? E como construir um governo sem empoderar a Autoridade Palestina?”, declarou Lula.
A Conferência foi convocada pela França e pela Arábia Saudita, como forma de angariar apoio à criação do Estado Palestino. O presidente francês, Emmanuel Macron, que presidiu a sessão, anunciou oficialmente que a França passou a reconhecer a nação.
Apoio ao Estado Palestino
No domingo, o Reino Unido, Portugal, Austrália e Canadá fizeram o mesmo, marcando um aumento no apoio internacional à Palestina e da pressão para que Israel cesse os ataques. O presidente da Autoridade Palestina — grupo sem ligação com o Hamas e que governa parte da Cisjordânia —, Mahmoud Abbas, participou por videoconferência, após ser impedido pelo governo Donald Trump de entrar nos Estados Unidos.
Lula afirmou ainda que “não há palavra mais apropriada para descrever o que está acontecendo em Gaza do que genocídio”, e que o conflito entre Israel e Palestina é o maior exemplo do desmonte das organizações multilaterais, principalmente do Conselho de Segurança da ONU, que não tem meios para impedir conflitos ou crises humanitárias atualmente.
“Os atos terroristas praticados pelo Hamas são inaceitáveis. O Brasil foi enfático ao condená-los. Mas o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis. Nada justifica tirar a vida ou mutilar mais de 50 mil crianças. Nada justifica destruir 90% dos lares palestinos, usar a fome como arma de guerra nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda. Meio milhão de palestinos não têm comida suficiente, mais do que a população de Miami ou de Tel Aviv”, acrescentou Lula.
Exemplo no Apartheid
O chefe do Executivo também anunciou que o Brasil vai reforçar o controle da importação de produtos vindos de assentamentos israelenses na Cisjordânia, bem como manter suspensas as exportações de materiais de defesa que possam ser usados nos ataques a Gaza ou outras nações.
Sugeriu ainda a criação de um mecanismo similar ao Comitê Especial das Nações Unidas contra o Apartheid, criado para combater o regime de segregação racial na África do Sul nos anos 90. “O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação. Tanto Israel quanto a Palestina têm o direito de existir”, enfatizou Lula.
Apesar da crescente pressão contra Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeita a possibilidade de o país reconhecer a soberania palestina, e mantém a ocupação na Faixa de Gaza.
“Tenho uma mensagem clara para os líderes que reconheceram um Estado Palestino após o horrível massacre de 7 de outubro: vocês estão dando uma enorme recompensa ao terrotrismo. Isso não vai acontecer. Nenhum Estado Palestino será estabelecido a oeste do Rio Jordão”, declarou Netanyahu logo após o anúncio feito pelo Reino Unido e outros países.

