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Israel ratifica plano de expansão na Cisjordânia ocupada

"O Estado palestino está sendo apagado da mesa não com slogans, mas com ações", disse o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich

Isabel Alvarez

Publicado: 20/08/2025 às 13:15

Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich/Menahem Kahana/AFP via Getty Images

Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich (Menahem Kahana/AFP via Getty Images)

Nesta quarta-feira (20), Israel aprovou definitivamente o polêmico plano de expansão dos assentamentos próximos de Jerusalém Oriental, que impedirá o acesso à cidade a partir da Cisjordânia ocupada e dificultará o estabelecimento de um Estado da Palestina contíguo.

O ministro das Finanças e colono israelense, Bezalel Smotrich, da extrema-direita, confirmou a decisão da Administração Civil, afirmando que apaga na prática a ilusão de dois Estados e consolida o controle do povo judeu sobre o coração da Terra de Israel.

"O Estado palestino está sendo apagado da mesa não com slogans, mas com ações. Cada assentamento, cada bairro, cada casa é um novo prego no caixão dessa ideia perigosa", disse Smotrich, um dos principais promotores da colonização dos territórios palestinos ocupados.

Com esta decisão, a Administração Civil, o órgão do governo israelense que administra a Cisjordânia, aprova a construção de 3.410 casas na área conhecida como E1, um terreno de 1.200 hectares a leste de Jerusalém habitado por várias comunidades beduínas palestinas.

A terra faz parte do assentamento judaico de Maale Adummim, o terceiro assentamento mais populoso da Cisjordânia ocupada, com 40 mil habitantes, e considerado ilegal pelo Direito internacional.

Além disso, o projeto inclui a construção de uma nova estrada que vai separar por completo o tráfego palestino e israelense além de transferir o controle militar para entrar em Jerusalém Oriental até 14 quilômetros a leste. A construção de novas habitações israelenses irá praticamente isolar Jerusalém Oriental do resto da Cisjordânia ocupada. A localização é estratégica porque esta zona liga as principais cidades palestinas de Ramallah, no norte da Cisjordânia, a Belém, no sul.

Jerusalém Oriental é a parte palestina da cidade, anexada unilateralmente por Israel em 1980 e reivindicada pelos palestinos como capital do futuro Estado da Palestina.

"Tenho o prazer de anunciar que, há apenas uma hora, a Administração Civil aprovou o planejamento para a construção do bairro E1", anunciou Guy Yifrah, presidente da câmara do assentamento de Maale Adumim, em comunicado.

Os assentamentos judaicos são considerados ilegais à luz do Direito internacional e a decisão já foi duramente criticada por organizações de defesa dos direitos humanos e a maioria da comunidade internacional.

"Esta é uma decisão consciente de Israel de implementar um regime de apartheid. Se a comunidade internacional leva a sério a paz e um Estado palestino, é urgente tomar medidas efetivas para impedir que Israel expulse palestinos da área E1”, alertou Aviv Tatarsky, investigador da ONG israelense Ir Amim.

Também a organização israelense Peace Now, contrária ao estabelecimento de assentamentos, já criticou veementemente as posições do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netahyahu. "Estamos à beira de um abismo, e o governo está avançando a todo o vapor", denunciou a organização Peace Now.

A Autoridade Nacional da Palestina (ANP) condenou o plano e reiterou que a medida rompe a unidade do território e o transforma numa verdadeira prisão. “Este projeto compromete as perspectivas de implementação da solução de dois Estados ao fragmentar a unidade geográfica e demográfica do Estado palestino. Isto reforça a divisão da Cisjordânia ocupada em áreas e cantões isolados, geograficamente desconectados e que se assemelham a verdadeiras prisões, onde a circulação entre eles só é possível através de postos de controle da ocupação, no meio do terror das milícias de colonos armados espalhados por toda a Cisjordânia", denunciou.

A chefe da diplomacia palestina, Varsen Aghabekian, apelou para uma intervenção internacional e sanções a Israel. “É necessária uma verdadeira intervenção internacional e a imposição de sanções contra a ocupação para obrigar Israel a deixar de executar os planos e a respeitar o consenso internacional sobre a solução da questão palestina”, indicou Aghabekian, acrescentando que a comunidade internacional age com complacência e que são inúteis apenas as declarações e expressões de repúdio sem ação, uma vez que os assentamentos em território palestino são ilegais.

“As meras declarações de condenação e denúncia são inúteis neste caso e não protegem a solução de dois Estados, especialmente à luz da ostentação pública oficial de Israel de atacar o Estado palestino e trabalhar para impedir a oportunidade de implementá-lo”, enfatizou.

O Egito, Jordânia e o Catar também rejeitam categoricamente os planos e as declarações extremistas do ministro das Finanças. “É um novo indício da arrogância e do desvio israelense, que não trará segurança nem estabilidade aos países da região, incluindo Israel. Israel tem de responder às legítimas aspirações do povo palestino. As políticas de assentamentos e as condenáveis declarações de responsáveis do Governo israelense incitam ao ódio, ao extremismo e à violência e contradizem os esforços para estabelecer uma paz duradoura e abrangente no Oriente Médio”, apontou o Ministério das Relações Exteriores egípcio.

Durante décadas, as autoridades israelenses se recusaram a aprovar o plano devido à pressão da comunidade internacional. Mas, com a chegada ao poder do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em 2022 à frente de uma coligação sem precedentes com a extrema-direita, que são os principais defensores da colonização dos territórios palestinos, o Governo aprovou um número inédito de novos assentamentos e confiscação de terra.

No entanto, vários países, incluindo a França, Reino Unido, Canadá e Austrália, prometeram reconhecer o Estado da Palestina na próxima Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas, em setembro.

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