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Em tempos de crise global, democracia ganha vida no Brasil

A democracia global enfrenta uma crise profunda

Publicado: 18/12/2025 às 08:53

Protesto contra PL da Dosimetria em Brasília/SÉRGIO LIMA/AFP

Protesto contra PL da Dosimetria em Brasília (SÉRGIO LIMA/AFP)

Carlos Costa *

A democracia global enfrenta uma crise profunda. Hoje, 72% da população mundial já vive sob regimes autocráticos, nos quais desinformação, polarização e autoritarismo se entrelaçam em um ciclo destrutivo, acelerando a degradação do tecido institucional democrático.

Relatório recente do V-Dem, projeto Variedades da Democracia, aponta que um dos principais sintomas da crise contemporânea das democracias é o fato de que, quando a polarização política se intensifica, cidadãos passam a relativizar princípios democráticos em troca de promessas fáceis, respostas rápidas ou projetos de poder personalistas. A votação do Brexit e a eleição presidencial nos Estados Unidos são exemplos claros desse fenômeno. À medida que cresce a indiferença em relação à democracia e a tolerância a discursos antissistema, aumenta também a disposição para apoiar outsiders e lideranças com vocação autoritária.

A democracia liberal está em crise porque, em muitos países, deixou de garantir bem-estar, segurança social e perspectivas reais de futuro, ao mesmo tempo em que suas instituições demoraram a reagir ao impacto dos algoritmos, que amplificam o ódio, a mentira e a polarização em escala industrial. A autocracia do século 21 não se impõe apenas pela força, mas opera de forma digital, transacional e emocional, corroendo a confiança pública e capturando afetos.

O Brasil, apesar das tensões e ameaças recentes, fez uma escolha política clara: não naturalizar o ataque às instituições ocorrido em 8 de janeiro. Investigou, puniu, julgou e afirmou que a democracia tem limites, e que esses limites não podem ser ultrapassados sem consequências. Ao fazê-lo, o país reafirmou que o Estado de Direito não é negociável.

A defesa da democracia exige instituições fortes, mas também coragem política. Imprensa livre, Congresso atuante, Judiciário independente e uma sociedade civil mobilizada são pilares essenciais para conter retrocessos e impedir a normalização do autoritarismo. Democracia não é neutralidade diante da ruptura, nem complacência com quem flerta com o golpismo.

Valorizar a democracia, hoje, é assumir posição. É defender direitos, eleições, imprensa livre e o respeito às regras do jogo, mesmo quando isso cobra custo político. Em um cenário global de regressão democrática, sustentar a democracia brasileira é um ato de responsabilidade pública, de compromisso com o futuro e de recusa explícita a qualquer projeto que ameace a soberania popular.

* Advogado e economista

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